domingo

A Passagem por Rosário (Arg.)

15 de Janeiro de 2008

Acordei cedo, arrumei tudo e saí para a estrada as 7:05. Quando cheguei ao trevo de Junin, ao invés de pegar à direita, fui pela esquerda. A seguir dobrei à direita e fui em direção a Colon. Quando me apercebi do erro, resolvi ir mesmo assim. Era chegar a Colon, dobrar a direita, seguir até Pergamino e depois em direção a Rosário, dava quase na mesma.
Comecei a notar que a gasolina ia diminuindo e comecei a temer não conseguir chegar a Gal. Arenales. Então vi à esquerda um pequeno pórtico dizendo: Benvenidos a Tibúrcio”. É por aqui, pensei. Assim que entrei no acesso avistei uma senhora que vinha caminhando ao lado da estrada. Quando me viu cruzou para o outro lado. Consegui chamá-la. Perguntei se conseguiria combustível naquela localidade. Ela disse que sim, logo adiante. Segui. Há 200 metros encontrei uns galpões à direita e duas bombas de combustível. Tinha um carro estacionado, que em seguida arrancou e um rapaz falando num celular e a conversa não terminava nunca. Quando terminou, perguntei se podia abastecer. Abasteceu até a boca, paguei 30 pesos.
Saí para a estrada que vai para Gal. Arenales. Dali a pouco começou um barulho, começou uns estalos. Os estalos foram acontecendo cada vez mais seguidos. O que é que está acontecendo, só pode ter a ver com o combustível que o cara colocou. Segui, cada vez com mais dificuldade. Quando vi que não ia dar certo, avistei uma casa de fazenda à esquerda. Entrei. Um cachorro me recepcionou,. Pensei, seja o que Deus quiser, se quiser morder, morde. Não tem jeito mesmo! Parei a moto, o cachorro parou. Bom, pelo menos o cachorro não me mordeu. Dei umas buzinadas, o cachorro acoou, buzinei de novo, o cachorro acoou de novo, mas gente mesmo, nada. Não tem ninguém. Dali não dava para sair, a moto nem pegava mais. 9:30 da manhã de um dia que prometia ser muito quente. Que ótimo. Não tenho outro recurso senão esperar. Não levou muito tempo veio uma camionete com dois sujeitos. O fazendeiro e o empregado. Expliquei meu caso para o fazendeiro, fez com a cabeça que não tinha entendido nada. Que vou fazer, dependo dele totalmente. Vai com calma Eduardo, explica devagar. Expliquei, ele entendeu. Examinou o combustível e disse que era gasolina com certeza. Bom, eu pensei, ainda bem. Ele me disse que em Gal Arenales tinha um mecânico, mas que ele não viria ali resolver meu caso. Bom, disse para ele, então estou perdido. Não consigo levar a moto lá, o mecânico não vem aqui... Não tem saída. Fiz uma cara de vítima, e isso era o melhor que podia fazer. Esperei um pouco, vamos ver no que vai dar. Eles caminharam pra cá, pra lá. Estavam ajeitando algumas coisas, não sabia o quê. Decerto ele viu que eu ia ficar plantado ali. Então me disse o seguinte: estamos esperando um caminhão de feno. Depois de descarregá-lo levamos tua moto na cidade. Aleluia. Assim que se fala.
O nome do fazendeiro era Lauro e o empregado Jorge. Trataram, mesmo antes do caminhão chegar, de colocar a moto encima de uma das camionetes. Depois de colocada, fiquei sentado, encima da carroceria. Agora é esperar o tal caminhão. Até o caminhão chegar, descarregar, levou 1:30 hs aproximadamente.



Minha moto, novamente encima de uma camionete.


Era meio dia quando Jorge me levou pra cidade. Chegando lá encontramos uma oficina. O mecânico (tajer para eles) olhou o combustível, era óleo diesel, o sujeito do posto tinha enchido o tanque de óleo diesel. Que legal. Um sol de rachar e eu ali. O mecânico foi muito atencioso. Jorge foi com uma vasilha comprar gasolina. Tiraram todo o combustível, quase emborcaram a moto. Colocaram a gasolina, deixaram escorrer mais um pouco e finalmente tudo voltou ao normal. Vinte pesos o serviço, estava 50 pesos mais pobre. Cinqüenta pesos perdidos, o óleo e o serviço. E ainda perdi um monte de tempo. E tinha um sol pra cada um, não dava pra se queixar.
Peguei a estrada completamente abafado, tava tudo quente. Parei num posto de gasolina na saída da cidade, completei o tanque. Pensei em ir à Tibúrcio reclamar meus 30 pesos, mas decidi não ir. Eram 20 Km para ir e 20 para voltar, de repente aquele animal não estava lá, se tivesse e não quisesse me devolver o dinheiro ia dar confusão, então deixa pra lá. Deus tem mais pra dar do que o diabo pra tirar, já dizia a minha mãe.
No posto comi um sanduíche, tomei alguma coisa, depois com a mesma determinação de sempre fui pro asfalto. A moto embaixo duma árvore, ajeitei ela, subi, baixei a viseira, tudo abafado.
Andei alguns quilômetros, tinha uma rótula indicando Ferrer para a direita. Não vou para Ferrer, segui pra frente. Andei 20 Km e vi que estava errado, tinha que ter ido a Ferrer, me ferrei. E voltar 20 Km naquele sol é doído. Certo já é difícil, errado é da gente se morder. Calma Eduardo, tudo se ajeita. Quando cheguei a Colon e peguei para Pergamino o trânsito aumentou.
De Pergamino até a Ruta 3 pouco movimento, passei por três pequenos povoados pobres com aparência de abandono.
Finalmente cheguei a Ruta 3, uma autopista que me levaria a Rosário.
Assim que encontrei um posto de gasolina, parei. O calor era demais. Um sujeito me disse que deveria ir à Santa Fé, ao invés de Vitória, que daria na mesma. Pelo menos se eu não encontrar a ponte e passar, tenho a possibilidade de ir a Santa Fé, não estarei de todo mal. Mas vou tentar encontrar o caminho para Vitória. Sabia que não seria fácil. Por sorte em determinada altura fiz a opção certa, quase por milagre. Uma entrada estreita, à direita, uma subida. Se não vou por ali, já era. Depois, seguindo , precisava encontrar uma entrada à direita que me levasse à ponte. Passei por muitas entradas, mas enquanto não tivesse certeza não entrava. E o movimento de carros na minha volta uma beleza. Eu me equilibrando, cansado, atento as placas, com o olho mais do que abertos, vidrados. E fui indo, e nada. Bom, acho que passei. De repente uma saída, Vitória. É por aqui. E era mesmo. Já avistei uma enorme ponte, aliás, a mais alta, mais bonita, mais moderna ponte que eu vi até hoje. A Rio-Niterói é mais comprida, mas não tão linda e moderna com certeza.




Atravessar esta ponte de moto é para não esquecer!



A ponte Rosário-Victoria, construída entre 1997 e 2003, tornou-se um dos cartões-postais da cidade e uma importante ligação com o Uruguai e Argentina. É por lá que passa boa parte dos caminhoneiros brasileiros que transportam cargas para o Chile.O custo da obra, US$ 385 milhões, revela a dificuldade para construir a estrada sobre os 60 quilômetros de terreno pantanoso entre Rosário e Victoria, no Delta do Rio Paraná. Só de pontes, são oito quilômetros de extensão. A ponte principal, juntinho a Rosário, é a parte mais bela da estrada. Ela tem 150 metros de altura e dois quilômetros de extensão. Parte da estrutura é suspensa por cabos.
Uma obra de engenharia de primeiro mundo. Tinha um pedágio antes da ponte. Bom pensei, não precisa pagar, já passei por vários pedágios sem pagar. Engano. Uma mulher muito severa disse que tinha. O problema não era pagar os 4 pesos e cinqüenta centavos que ela queria, o problema era achar. E atrás de mim tinha um baita dum caminhão. Eu demorando, o cara quase encostou o para choque na minha moto. Achei o dinheiro, paguei. Entrei na ponte, belíssima, uma subida grande, lá embaixo um navio cruzando, lá longe à direita os arranha-céus de Rosário à beira do rio. Lindo, pena que não dá para parar e tirar uma foto. E o caminhão atrás de mim. Assim segui, sai da ponte, vêm outras menores. O asfalto um tapete, um movimento grande de caminhões, de vez em quando uma placa: acostamento melhorado, tipo um refúgio, no restante o acostamento é grama. Tinha vontade de parar. Na grama, complicado, o refúgio me parecia muito estreito. Estou cansado, exausto, me lembro que a travessia do rio Paraná mede aproximadamente 60 Km. Não chega nunca. Mais ponte, e o caminhão atrás de mim. Estou com mania de perseguição. Mais adiante, um retorno, não entro. Depois me arrependo, daria para parar sem problema. E vai e vai, meu Deus quando é que isso vai terminar. Lá pelas tantas outra placa de retorno. É agora, paro de qualquer jeito. Parei. Tinham dois caminhões parados. Na frente de um deles, dois sujeitos, um novo e outro velho. Eles sem camisa, na sombra do caminhão, porque no sol não dava para parar. Pedi licença e encostei também. A cabeça ainda ficava fora da sombra. Pensei no meu chapéu. Nem pensar desatar aquilo tudo para encontrar o chapéu, fico assim mesmo. Contei minha história, eles contaram que estavam com o caminhão pifado esperando um mecânico. Perguntei se tinham água. Um deles disse: água não tem, mas tem um resto de alguma coisa que eu não entendi direito. Foi buscar. De dentro de um isopor tirou uma garrafa de refrigerante de laranja, o final. Como dizer que não queria. Tomei e agradeci muito. De repente pensei seguir. Não dá, um carro estragou encima da ponte. Começo a reclamar da sorte, mas o senhor diz que não vai demorar, já estão retirando. Espero um pouco e quando tudo volta ao normal, me despeço e sigo. Vitória já está perto. Termina a estrada, viro à direita para Vitória. Subo, desço, entro em Vitória. Vejo um Posto de Gasolina e paro. Não sei por que gosto tanto de Posto de Gasolina? Entro no bar do Posto. Este não tem ar condicionado. Peço uma bebida, quando penso em me sentar a moça que atende diz que ali não posso sentar porque vai atrapalhar a passagem. Aponta para o outro lado, eu digo pra ela, mas esta cheio de caixas de refrigerantes. Então está bem, fica aí mesmo. Pergunto por um camping. Outra moça diz que em frente tem um serviço de informações turísticas. E tinha mesmo, e fui bem atendido e me recomendaram dois.
Resolvi ficar naquele da saída para Nogoya. De todos que tive este era o melhor cuidado, de melhor estrutura. A moça me indicou um lugar embaixo de uma árvore. A árvore ficava ao lado de um córrego, e à noite umas pererecas fizeram um barulho danado. Eram de uma espécie que eu nunca escutei. Faziam um chiado que começava baixinho, depois ia aumentando o volume para terminar num tipo de gritaria animal. Depois começava tudo de novo. Isso demorava talvez 15 segundos. Que beleza! Para completar veio um temporal, vento, chuva, raio, molhou tudo fora e dentro da barraca, foi ótimo. Eu era um flagelado.