domingo

Em Puerto San Julian

10 de janeiro de 2008

Levantei. Consegui um taxi para me levar ao hospital, estava preocupado com o joelho.
Lá uma médica examinou meu joelho e disse que não devia ser muita coisa, pois não estava inchado. Receitou-me um antiinflamatório, uma joelheira e fui embora. Não paguei nada pelo atendimento. A senhora da Farmácia foi muito gentil. Deu-me um pão para comer, antes de tomar o comprimido e duas bolsinhas de gelo para colocar no joelho.
Depois fui ao banco, mas o cartão continua não funcionando. O Renato havia me emprestado 300 pesos. Precisava telefonar para a Regina para ela depositar dinheiro na conta dele. Quando liguei disse que estava no hospital cuidando da minha sogra que tinha tido um ameaço de infarto. Pensei comigo: será que ela adivinhou o meu sofrimento e passou mal. Bobagem! Não pode ser.
Depois voltei para o posto de gasolina e fiquei até as 14:30 vendo se conseguia um caminhão que levasse eu a minha moto para o norte. Não consegui nada, não deu nem para pedir. Nada apareceu que pudesse servir.
Peguei outro táxi, fui até uma transportadora, Cruz Del Sul. Lá fui muito bem atendido por uma senhora. Acertamos que levariam minha moto até Bahia Blanca, 1000 Km dali em direção ao norte, por 150 dólares. Assim, eu me escaparia do frio e do vento. Como dava no meu dinheiro, e não tinha outro jeito, topei. Era quinta-feira e a moto estaria lá na segunda de manhã. Até lá eu teria tempo para me recuperar um pouco do joelho, dali pra frente seria comigo mesmo. As 18:30 minha moto se foi.
Retirei minhas coisas do hotel e agora estou sentado na lancheria do Posto de Gasolina assistindo um DVD de música, que repete, repete, repete as mesmas músicas, e ninguém troca. Como irei passar a noite aqui sentado, meio de favor, fico quieto. Não sei que horas vão trocar o disco, daqui não posso sair e minha casa está longe.
Nesta manhã voltou o casal de Sapiranga, a moto empinou duas vezes com o vento, o Paulo, aquele que deve me achar um idiota e dois paulistas, com cara de motoqueiros de longa data. Fiquei conformado, não fui só eu. O casal de Sapiranga ao saberem que meu nome é Eduardo, disseram que até aquele momento me conheciam por “o louco”. Deixa pra lá.
De resto, é melhor às vezes a gente se aperceber que existem limites. Como os alpinistas costumam dizer, a montanha sempre espera. O ano que vem eu volto.
Estou planejando chegar em casa daqui 10 dias.
Hoje aqui na lancheria apareceu um casal de Pelotas, ela com todas aquelas características peculiares às mulheres pelotenses. Acho que a fama que o pelotenses tem, devem a elas.

11 de janeiro de 2008

Depois de passar a noite dormindo sentado resolvi voltar para o Hotel. Porque fiquei dormindo sentado? Dinheiro curto, o cartão de crédito não funciona e poucos lugares aceitam pagamento com cartão. Então tenho que me virar como posso. Quem sai na chuva é pra se molhar e como me disse o Juarez Dominguez de Santa Maria uma vez, quem troteia porque quer não cansa. Falei com a Dna do Hotel. Ela, as 9:30 da manhã, deixou ocupar o apartamento, podendo ali ficar até as 12:00 do dia seguinte, pagando apenas 1 diária. E isso que os brasileiros não gostam dos argentinos. Que pecado!
Dormi até o meio dia. Também pudera!
Depois peguei um remis, lá os táxis são baratos, e fui almoçar num restaurante (El Capon). O motorista achou que eu queria ir numa agropecuária, mas quando chegou lá estava fechado. Aí eu perguntei, mas isto é um restaurante? Ah! O senhor quer ir num restaurante? Achou muito engraçado. E me levou. Comi o prato do dia que era mais barato. Polenta, queijo, carne moída e pão (aliás, lá toda refeição tem pão, é o nosso arroz). Comi tanto que até passei mal, mas precisava comer, então comi.
Resolvi caminhar bastante. Fui até o Banco da Nação Argentina, mas o cartão não funciona. Tirei fotos da Nau Magallanes, réplica da Nau que Fernando de Magalhães utilizou quando descobriu a ligação entre o Atlântico e o Pacífico, e que está exposta no final da Av. San Martim, à beira do mar.
Em agosto de 1519 partiu de Sevilha a frota de Fernando de Magalhães em busca de um canal interoceânico entre o Atlântico e o Pacífico para alcançar as isoladas ilhas da Especiaria. A armada tripulada por 265 homens e cinco naus., protagonizou uma viajem épica, sinalizada pela tragédia. O Porto de San Julian, foi um desses cenários. A frota de Magalhães experimentou as piores vicissitudes, ao cabo de três anos só regressou à Espanha a fantasmagórica Nau Victória, a bordo somente 18 homens, espectrais heróis que haviam logrado a incrível proeza de medir a cintura ao mundo.





Nau Victoria


Aos Imigrantes


Monumento aos heróis das Malvinas





Telefonei para Regina, comprei uns fones de ouvido, comprei banana, um Sprite e fui numa padaria ótima que faz coisas muito boas.
Voltei para o hotel e descobri que meu tornozelo estava muito inchado. Coloquei bolsas de gelo, depois dormi.
Assim que acordei sintonizei meu rádio de ondas curtas na Guaíba de Porto Alegre, ouvi uma bela entrevista de um dos participantes da peça em cartaz no Teatro São Pedro: Tangos e Tragédias.
Agora tomei remédio e estou sentado na cama escrevendo.