domingo

A caminho de Comodoro Rivadavia

5 de Janeiro de 2008

Saí de El Bolson já 10:00 hs da manhã. Viagem tranqüila até Tecka, aonde cheguei as 13:45 hs. Dia muito quente Abasteci, fiz um lanche e segui para Governador Costa.
Lá chegando abasteci novamente e perguntei se havia um camping. Responderam-me que sim. Chegando lá estava fechado. O espaço era pequeno e não tinha ninguém. Dali a pouco chegou um bêbado, arrastando a língua, falando algumas palavras em inglês, me empurrando e me levando em direção ao camping. Fiquei bastante surpreso com a situação, num lugar pequeno daqueles, surge uma camionete, saltam dois argentinos, um vem em minha direção, falando inglês e bêbado! Eu mereço! Enrolei-o também e ele foi embora. Dali a pouco chegam dois carros, querendo ficar no camping. Como estava fechado, resolveram voltar ao centro da cidade, acreditava eu, para retornar depois. Com isso me animei a entrar por um vão para dentro do camping. Tirei a cadeira da moto, me sentei à sombra de uma árvore e fiquei esperando que alguém aparecesse. Quem apareceu foi o bêbado novamente. Fiquei preocupado. O cara chegou perto de mim, encostou a perna no meu joelho e pediu 20 pesos, que eu acho que seria para colaborar na feitura de um churrasco à noite. Fui despistando o que pude, com calma, mas com determinação. E ele, com a mesma determinação, mais duas vezes pediu 20 pesos. Olhei para o outro sujeito e não fiquei nada animado. Quando finalmente desistiu, pegou a camionete e foi dar outra volta, eu tratei de arrumar as coisas. Quando estava por sair, a camionete voltou outra vez, mas saiu de novo. Aí eu saí pelo outro lado e me meti definitivamente na estrada rumo a Sarmento.
Estava já cansado. Por isso resolvera parar por ali. Agora, teria que enfrentar uma estrada no meio do deserto, muito vento e calor. Doía tudo, às vezes ficava imaginando se o bêbado resolvesse vir atrás de mim. Bom, seria o fim. Depois de andar mais de uma hora, percorrer aproximadamente 100 Km de muito vento, finalmente vi uma placa que indicava um lugar, Laurita, com posto de gasolina, camping... Mentira. O Posto era uma tapera, camping não existia. Não tinha quase nada.
Lá encontrei um sujeito chamado Eduardo, que me disse que iriam reformar o local, que se eu quisesse armar a barraca tudo bem, mas sem banho, sem comida. E Sarmento ficava há 170 Km dali. Vi uma camionete Chevrolet velha encostada perto do posto. Vi um rapaz sentado numa cadeira do lado da camionete. Disse para o Eduardo, vou lá falar com aquela gente. Chegando mais perto pude ver que existia uma senhora sentada na cabine e deitado na carroceria o marido dela. Era um homem gordo e forte. Quando perguntei o que estava fazendo ali ele respondeu que estava descansando, que a camionete vinha perdendo óleo. Isso tínhamos em comum, o cansaço. Acho que foi daí que tirei a idéia. Perguntei para ele para onde iam. Comodoro Rivadávia. Contei meu caso e perguntei se carregaria eu e a minha moto, pois estava igualmente muito cansado. Negócio fechado, o homem topou. Com isto parece que ele criou novo alento. Levantou-se, procurou uma corda, a mulher me ofereceu um cobertor para sentar na carroceria.




Inesquecíveis argentinos de Comodoro Rivadavia

A moto amarrada por uma corda de um lado e no outro meu braço segurando. Meu braço era a corda e eu sentado contra a carroceria. As tralhas tudo encima, vamos embora.
Eu estava tão cansado, que quando me ajeitei melhor, consegui dormir, e mais, até sonhar sonhei. O homem era ótimo motorista, a camionete apesar dos problemas da estrada ia serena. E eu avistando a paisagem.

A caminho de Comodoro Rivadavia



A velocidade algo entre 80 e 90 Km/hora, velocidade que eu andava de moto. Tudo tranqüilo. Uma hora parou para completar o óleo e seguimos. Perguntou se eu estava com frio, respondi que não. Depois argentino não presta, imagine se prestasse.
Quando chegamos a Sarmento paramos num Posto de Gasolina. Ele mandou botar 40 pesos. Imediatamente ofereci 20. A princípio meio que recusou, mas aceitou de bom grado. Saí correndo para comprar um refrigerante, tropecei no meu salto alto, torci o tornozelo. Em seguida apareceram uns paulistas numas motos BMW. Quando viram minha moto encima da camionete perguntaram se estava com problemas, ao que eu respondi que não, o problema era eu. Depois que relatei meus feitos, um deles me aconselhou que da próxima eu procurasse um médico, que me receitasse hormônio, se não me engano Androsterona, para tomar a cada 20 dias. Que eu não era um super homem. Gostei deles, me saldaram quando arranquei sentado atrás da camionete segurando a moto. Às vezes eu ria sozinho da situação.
Chegamos a Comodoro Rivadávia as 23:00 hs. Nunca havia dirigido moto à noite, estava frio e eu quase demolido pelo tempo sentado no soalho da camionete. Mas o que se há de fazer. O homem me largou na Ruta 3, dali para diante era comigo. Despedi-me, agradeci um por um, pedi que ele aguardasse eu arrancar. Liguei a moto e me fui rumo ao centro da cidade.
Àquela hora procurar um camping e esperar que ele estivesse aberto era meio difícil. Quando vi um Posto de gasolina da YPF, parei, estacionei. Quando entrei e vi que tinha calefação, que lá dentro estava quentinho, pensei, é aqui mesmo que fico. Fiz um lanche, e dormi ali mesmo, debruçado numa mesa. Escutei todo tipo de música, música alta, folclore, de tudo, de vez em quando mudava o estilo, e eu ali firme. Pelo menos estava vivo.