domingo

Conclusões

O que ficou desta aventura? O que foi positivo, o que foi negativo?

Passados alguns dias da minha chegada, o que sinto é que valeu muito. Foi como tivesse recebido uma injeção de ânimo na minha vida. Rejuvenesci muito com esta viagem, me vejo capaz de fazer coisas que antes nem pensava realizar. Senti quanto de energia ainda tenho. Pude perceber que entre os motociclistas a diferença de idade desaparece, somos iguais, é como se o tempo parasse. E quanto companheirismo, quanta solidariedade encontramos pelo caminho! Pessoas que nunca se viram e que pelo simples fato de ter uma mesma paixão, andar de moto, passam a ser íntimos, até mesmo quando de nacionalidades diferentes. E quantas pessoas que não são motociclistas nos recebem e nos acodem de forma especial.
Quanto aos argentinos o que trouxe foram grandes recordações e uma mudança completa no meu modo de vê-los daqui pra frente. Saí do Brasil pensando encontrar um povo com mania de grandeza, que não receberia bem brasileiros, pessoas de poucas palavras para um estranho. O que encontrei foi completamente diferente e surpreendente; um povo alegre, receptivo, prestativo, acolhedor, humilde, simples. Quando assistir daqui para frente uma partida do selecionado argentino de futebol não será mais como antes. Vou me lembrar daqueles sorrisos que me acalmaram, das mãos que me estenderam e das palavras que me confortaram. Desde que não seja contra o Brasil, torcerei por eles. É claro que não são todos assim, mas na média os argentinos são ótimos.
Houve também uma mudança radical em termos de perspectiva de vida. Mas tudo isso tem seu preço, há riscos. Mas há também a possibilidade de nos prepararmos melhor, para corrermos menos riscos. O motociclismo deu-me de presente a prática da musculação. E como é importante cuidar do corpo, e como isso também nos rejuvenesce, e como nos dá qualidade de vida! Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi quanto o tempo se estendeu durante a minha viagem de 31 dias. Para mim, não foram 31 dias, mas quem sabe 4, 5, 6 meses, dado a intensidade com que vivi esses dias. E agora, além de curtir com orgulho a lembrança de minha aventura, ainda tenho algo a mais para sonhar, a próxima.

E o que foi negativo?

O fato de verificar, mais uma vez, o quanto os governos são ineficientes, o quanto de mal provocam, quando não sabem administrar o dinheiro e os recursos da nação. A Argentina sofre dos mesmos males do Brasil. Tem um povo espetacular, como o nosso, mas vi muitas cidades como as nossas, paradas no tempo. De negativo também os motoristas: de moto, de automóvel, de caminhão. Motoristas que não tem educação, que não tem respeito pelo seu semelhante, que vivem numa ansiedade doentia, querendo ultrapassar a qualquer custo, como loucos. Neste aspecto estamos piores que os argentinos, muito piores. E lá não tem pardais, as lombadas são raríssimas. Enquanto os homens que fazem as leis, os homens que deveriam fazer cumpri-las, não resolverem realmente ser homens e punir exemplarmente os irresponsáveis do trânsito, continuaremos nesta situação. Um dia virá que o policial estará à paisana, de filmadora em punho, registrando e levando à justiça estes desequilibrados. Como pena mínima, a retirada definitiva da carteira de motorista. Quando isto for feito, vamos ter resultado. Mas para que isso ocorra precisamos acabar com a corrupção, e isto parece longe de ter fim. Enquanto esse dia não chega, continuaremos a ver se multiplicar os pardais, as lombadas, as multas por excesso de velocidade, coisas que além de injustas, na maioria das vezes, não atacam o problema como deveriam atacar. Isso sem falarmos da educação de base, coisa que em nosso país vai de mal a pior.