domingo

De Criciúma à Uruguaiana

19 de Dezembro

O começo da Viagem.



Eram 9:08 quando a Regina abraçou o capacete, eu acelerei e comecei a viagem. Cada sinaleira, cada curva, cada parada, todo cuidado. Quando fiz a curva no Hospital São José fiquei animado, vamos embora.
Quando cheguei a Orleans parei num posto de gasolina à direita lá no trevo de acesso a Lauro Muller. O homem que abastece me amedrontou, dizendo que os caminhões descem a serra muito ligeiro e que eu deveria ter cuidado. Então ao chegar a Guatá eu encontrei um caminhãozinho que ia à minha frente numa velocidade boa. Pensei, vou segui-lo, assim ele me servirá de escudo. Não foi o melhor, no meio da subida ele foi perdendo força, tive que colocar uma segunda, depois uma primeira, ele praticamente parou na minha frente e eu quase fui ao chão. Por sorte, consegui dar uma acelerada, ali tinha um refúgio, parei a moto e esperei ele ir bem pra frente. Esperei o que pude, resolvi que só seguiria quando avistasse um caminhão subindo e sairia na frente dele, e foi o que fiz. Apareceu um ônibus, arranquei e cheguei finalmente encima da serra.
Daí para frente foi tranqüilo.





SERRA DO RIO DO RASTRO - são 15 km de estradas concretadas, encravadas em rocha natural, contornando um cânion profundo de 1.460 metros em relação ao nível do mar. Com sua pavimentação, passou a ser considerada uma das estradas mais bonitas do Brasil, pois o seu percurso propicia a visão de paisagens inesquecíveis. Em alguns trechos, a rodovia (SC 438) avança 670 metros de altura em apenas 8 km. A Serra do Rio do Rastro é patrimônio do município de Lauro Muller e está localizada a 8 km do centro urbano. Na divisa com o município de Bom Jardim da Serra, no alto da serra, há um mirante onde, em dias de sol, se vislumbram até as águas do Oceano Atlântico. A Serra do Rio do Rastro é um dos mais belos marcos geológicos do planeta, com vegetação exuberante e abundância de cachoeiras, além da vista panorâmica única, a subida da serra permite ao espectador vislumbrar a história geológica da Terra.
Fiz um lanche antes de São Joaquim. Havia um casal de Curitiba com um filho já jovem que havia parado ali para fazer “Tirolesa”, ou seja, uma descida por uma corda amarrada a um cabo de aço, por 80 metros. A mulher era a mais corajosa, foi primeiro. Comentei com a senhora da lancheria que eu tinha medo de altura e ela se admirou de eu não ter medo de andar de moto. Não disse pra ela que esse medo eu também tinha.
À tarde quando cheguei na Polícia Rodoviária perto de Lages, parei para descansar. Encontrei um Policial, Sr. Rubens, um senhor muito simpático que gostava também de andar de moto, me mostrou uma Falcon que eles tinham e me deu bastante força.
Depois segui viagem, cheguei em Lages, peguei a BR 116, tudo tranqüilo e parei num restaurante, ao lado de um Posto de Gasolina. Saí do posto, mas logo ameaçou chover e voltei. Em seguida chegou um casal de motociclistas da Inglaterra. Consegui me comunicar com muita dificuldade em inglês. Eles foram bastante simpáticos. Ele tinha 69 anos e ela 61. Começaram a viagem pelo Equador, Bolívia, Paraguai, Brasil. Estão indo ao Uruguai, Argentina e Chile.
Como chovia bastante e eu não estava longe de Vacaria, resolvi ficar num apartamento encima do restaurante do lado do Posto. Perguntei para o senhor do posto se tinha um lugar para guardar a moto. Ele disse que sim, lá atrás havia um galpão meio abandonado, mas era seguro. Tentei passar por uma porta que dava para um local mais adequado, mas não deu. Tive então que colocá-la noutra peça que fora uma borracharia, tinha de tudo espalhado nela, mal dava para acomodar a moto, mas tudo bem, ele fechou o galpão com um cadeado e assim fiquei tranqüilo.

20 de dezembro

Saí as 9:00 por causa da cerração.
Senti pela primeira vez, de modo mais acentuado os efeitos do vácuo ao cruzar por um caminhão grande. Teve uma hora, que foi como se tivesse recebido um soco no corpo inteiro. Comecei a ficar tenso.
Ao chegar em Lagoa Vermelha parei para almoçar num Posto de Gasolina da Petrobrás. Ali fiquei esperando o “Contador”. Quando chegou, por volta da 1:20 da tarde, falou estar arrependido de ter subido a serra da rocinha, que estavam arrumando a estrada e que por duas vezes quase caiu. Isso eu já sabia. Mostrou-se um pouco arrependido da viagem, que estava cansado, que de carro teria ar condicionado, essas coisas. Ai eu disse para ele que não conseguiria ainda andar no ritmo dele, quem sabe um ou dois dias mais tarde eu conseguisse. Disse a ele, que deveria seguir na minha frente, ir até Ijuí, parar num hotel que eu conhecia e que era bom, e que eu chegaria mais tarde. No começo ele tentou ver se eu conseguia acompanhá-lo. Quando viu que não dava foi embora. A estrada estava muito movimentada, tráfego intenso, pelo menos é o que para mim parecia e eu tinha 275 Km a percorrer até Ijuí. Na mão direita, apesar da luva, na volta em que o polegar abraça o guidon fiz uma bolha, estourou e ficou em carne viva.
Fiz neste dia quase 500 km completamente tenso.
Procurava relaxar, mas não conseguia. Cheguei em Ijuí, eram 19:15. Perguntei no Hotel pelo “Contador”, o rapaz disse que ele não havia chegado.
Quinze minutos depois ele chega. Reclamou de eu não tê-lo visto parado no Posto da Policia Rodoviária em Passo Fundo. Disse que dormira lá, pois estava cansado. Reclamou um monte, disse que estava a ponto de desistir. Como é que pode, um sujeito que estava acostumado a ir para São Paulo, sair de lá de moto, que tinha prática em dirigi-la, que me alertara sempre que era cansativo andar de moto, que eu não fazia idéia disso, como é que podia estar no primeiro dia com esse ânimo. Eu, apesar de tudo, estava preparado para a dificuldade. Quando eram 20:45 ele resolveu seguir viagem até São Borja, onde morava um irmão dele, mas ia ficar num hotel na entrada da cidade. Um senhor que escutava a conversa aconselhou que ele não fizesse isso, que era uma temeridade dirigir à noite numa estrada com tantos buracos e com movimento de caminhões. Não havia a mínima necessidade. Falou que queria achar um barbeiro, pois estava agoniado com os cabelos grandes. Achei aquilo muito fora de propósito. Numa hora daquelas, numa cidade que a gente não conhecia, estar preocupado com o cabelo, é demais para mim. Por fim me disse que ia para São Borja, no outro dia ao meio dia eu telefonasse para ele que ele me diria se ia em frente ou não. Quem sabe voltasse por Assunção.
Assim se foi o meu “Contador” estrada afora.

21 de dezembro

Levantei, tomei café, engraxei a correia da moto, fiz meus exercícios de alongamento, e parti.
Ao meio dia quando cheguei a São Luiz Gonzaga liguei para ele. Entre o meio dia e uma da tarde liguei 10 vezes. Chamava e não atendia. Nunca me ligou.
Quando cheguei no hotel na entrada de São Borja me informaram que ali se hospedou, saiu as 8:30 daquela manhã.
Este dia foi muito quente, parei diversas vezes, muita dor nas costas, às vezes parece que tenho um punhal cravado nas costas, no lado direito. A estrada está ruim, mas com poucos buracos.
O hotel em São Borja é bastante confortável, deu para descansar.

22 de Dezembro

Saí de São Borja, abasteci em Itaquí e cheguei em Uruguaiana as 11:00 hs.
Almocei num Restaurante ao lado de um Posto da Petrobrás, antes de chegar em Uruguaiana. Conversei bastante com a dona do restaurante. Depois encontrei um sujeito chamado Bruno, que estava lavando uma Falcon Verde, no posto. Perguntei se ali no posto trocavam o óleo da moto. Ele, percebendo minha inexperiência, se prontificou a achar alguma oficina que fizesse a troca. Saí perseguindo ele, passei o maior sufoco, até achar uma loja aberta. Uma hora ele virou a esquerda, eu fui reto, pensei, agora perdi o homem. Consegui dar a volta no meio da quadra no maior cuidado, depois virei à direita e lá adiante o avistei. Segue o “baile”. Encontramos uma oficina e um sujeito chamado Fernando fez a troca do óleo. Disse que o sonho dele era fazer uma viagem como a minha. Aí o Bruno me informou que pertinho dali tinha um Beef Shop de dois sujeitos, chamados Gustavo e Ricardo, que haviam viajado pela Argentina e que poderiam me ajudar. O problema é que eram 1:15 da tarde e a loja só abria as 15:00. Resolvi esperar. Fazia um calor de rachar. Chegou um sujeito que morava encima do Beef Shop. Perguntei se ele me arrumava um pouco de água e ele trouxe duas garrafas cheias, geladíssimas. Agradeci uma delas. Foi ótimo. Tirei a jaqueta, a camiseta, fiquei pelado da cintura para cima e me sentei no degrau da loja. Um rapaz, que cuidava dos carros no local conversou bastante comigo.
Um pouco antes das 15:00 chegaram o Gustavo e o Ricardo. Logo me disseram que o cara certo era o Renato, que tinha mais experiência. Ligaram para ele e ele veio me ver. Falei que não tinha muita experiência, que ele fosse devagar, e o segui até a residência dele, que era próximo dali. Depois apareceu outro sujeito, o Osório, que me levou na casa dele e me mostrou fotos da viagem que fizeram a Cordilheira dos Andes e foi quem me fez ver que conhecer o lado argentino da Cordilheira era melhor do que o lado chileno. Do lado argentino a gente anda pela Cordilheira, no chileno ela está distante. Tranqüilizou-me quanto às estradas e quanto aos argentinos. Que as estradas eram planas, retas grandes, limpas, sem buracos. E o argentino muito receptivo, podia deixar a moto e os pertences que ninguém mexia em nada. Com eles fiz meu roteiro de viagem. Foi excelente, me deu vida nova. Renato me ofereceu um quartinho para passar a noite, encima do escritório, de graça. Com um ventilador para espantar os mosquitos deu tudo certo. Ganhei novo ânimo.

Em Uruguaiana, com Renato (ao lado) e Osório (de óculos)

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